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12. Finalmente... o Dinheiro !

por PM, em 27.04.15

Por esta altura, começa a ser mais fácil aceitarmos a noção de como o campo de batalha em que se têm vindo a cometer as maiores atrocidades neste planeta são as nossas próprias cabeças... e só afirmamos que é nas nossas cabeças que se cometem as maiores atrocidades porque as que depois afectam os outros órgãos decorrem geralmente delas.

 

Assim, uma vez que já apreciámos alguns dos chavões com que a moderna "ciência política" nos foi redesenhando o mapa do Cosmos e nos anunciou o advento próximo do seu Império das Boas Intenções, apenas faltará perguntar porque teriam os nossos voluntariosos Iluminados desenvolvido tão notáveis anticorpos a todos os gigantes que os antecederam...

 

Dicebat Bernardus Carnotensis nos esse quasi nanos gigantum umeris insidentes, ut possimus plura eis et remotiora videre, non utique proprii visus acumine, aut eminentia corporis, sed quia in altum subvehimur et extollimur magnitudine gigantea.

 

Dizia Bernardo de Chartres que somos como anões aos ombros de gigantes, pois podemos ver mais coisas do que eles e mais longe, não devido à acuidade da nossa vista ou à altura do nosso corpo, mas porque somos mantidos e elevados pela estatura de gigantes.

 

Bernardo de Chartres, citado por João de Salisbúria, "Metalogicon", III, 4 (latim ou inglês).

 

A metáfora dos "anões aos ombros de gigantes", que nos tem sido impingida como produto do génio newtoniano em reconhecimento dos seus precursores "Kepler, Galileu, Descartes e outros", vai ironicamente servir-nos com a maior pertinência para mostrar as razões da aversão pública dos modernos a todos os gigantes que os tinham antecedido — afinal, a lição dos Clássicos não só não tinha sido rejeitada pelos "obscuros medievais", como até tinha sido preservada, respeitada, assimilada e ampliada pelo pensamento cristão. Mas vamos, para já, deixar esta questão pendente, uma vez que o nosso tema é outro...

 

... E é outro porque cada vez se torna mais claro como o principal desígnio da modernidade não estava minimamente relacionado com a recuperação de algum tipo de tradição perseguida pela cristandade durante a "Idade Média" nem com a introdução de nenhuma espécie de novidade ignorada pelos "obscurantistas". Na verdade, aquilo que efectivamente procurava o moderno era a corrosão dos fundamentos da Civilização Cristã que se tinha começado a erguer a partir das ruínas do Império desfeito...

 

Embora actualmente não se atribua importância ao assunto, foi por iniciativa cristã que a partir dos séculos XII e XIII começam a ser fundadas inúmeras universidades na Europa — e estas não só não dedicavam o seu tempo a queimar "hereges" como não tinham como exclusivo objecto de estudo a Teologia. Muito pelo contrário, entre as questões que começaram a preocupar com insistência os académicos contavam-se as dedicadas à política, à sociedade e à economia.

 

Deixando de lado, pelo menos para já, outros assuntos que seria muito esclarecedor abordar, interessa-nos realçar que se tinham tornado dignos de especial atenção os relacionados com a usura, a actividade bancária e a reserva fraccionária, bem como sobre o justo preço e a especulação...

 

Perante uma afirmação deste teor, os janotas globalizados que contemporaneamente dilatam a opinação pública hão-de sorrir com o mais sobranceiro desdém...

 

— Então não são exactamente esses os espinhosos temas que abordam com a maior objectividade os contemporâneos cientistas económicos ? O que é que uma mão-cheia de preconceituosos e obscurantistas medievais poderia ter a dizer de remotamente válido sobre eles ???

 

Aquilo que devemos reter neste momento é que, independentemente dos resultados a que tenham chegado os escolásticos, todas as reflexões que se façam sobre economia a partir do contexto de um pensamento cristão têm de ser conformes tanto com ineludíveis princípios como precisas finalidades...

 

... ou seja, os famosos princípios primeiros e as causas finais...

 

... e o que implicará isso senão aquela Metafísica tão avessa aos modernos ?

 

A despeito do clamor que neste momento deve assolar as hostes neo-paleo-positivistas, temos aí enunciada em epítome a "dialéctica" que percorre senão grande parte da história ignorada do "Ocidente", pelo menos longas páginas daquilo a que podemos chamar "reconstrução pós-Imperial":

 

a ética contra a finança...

 

 

venecia bancos.jpg

Mais violência medieval:
A longo de toda a "Idade Média", foram sistematicamente
condenadas todas as actividades de cariz usurário.
Uma gravíssima injustiça, não é?

  

 

[7, 12]

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publicado às 10:00



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