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"As Cortes e a Constituição não são coisa nova nestes Reinos: são os nossos direitos e os dos nossos Pais." — in Manifesto da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, de 15 de Dezembro de 1820
Chegámos, portanto, àquele momento civilizacional em que contrapor qualquer coisa que se ouse designar como obscuros interesses da finança a qualquer outra coisa que se tenha a desfaçatez de nomear como princípios éticos apenas produz o irremediável efeito de atrair sobre si o opróbrio unânime de uma horda de intelectuais bem pensantes para os quais foi exactamente o divórcio entre estas duas "coisas estranhas" que teria incontestavelmente assinalado o pontapé de partida para a fabulosa Era de Progresso e Liberdade de que nos têm dado inequívoco testemunho os últimos séculos de história europeia...
... E na verdade, depois de percorrer as parangonas de alguns dos pasquins mais em voga, é quase impossível deixar de reconhecer que os tempos que nos tem sido dado viver não podem sequer ser descritos por nenhuma expressão em que não esteja presente algum adjectivo próximo de "prodigiosos" — isto se não existisse já desde há algum tempo um outro termo devidamente consagrado para o efeito, que é exactamente o de... "Revolucionários" !
"Era Revolucionária", isso sim !... Porque depois da inaugural Revolução Francesa — ou, se preferirem, da mais discreta Revolução Americana (e não é necessário recuar muito mais, porque o experimentalismo de Cromwell acabou por ser convenientemente higienizado da memória do vulgo) — o conceito de "Revolução" foi-se introduzindo subrepticiamente mas com grande júbilo no vocabulário e nos hábitos de lazer de uma certa sociedade "erudita".
No entanto, e a despeito do que geralmente nos querem fazer crer os telejornais, para o "cidadão comum", a ideia de "revolução" não evoca, por si só, nenhum tipo de associações especialmente enaltecedoras... Neste momento, se vivessemos numa sociedade saudável, levantar-se-ia até a questão de saber porque é que uma ideia que, basicamente, repugna à maior parte das pessoas que todos os dias têm de sujar as mãos para "desfrutar do pão que o diabo amassou", pode ser tão venerável para um outro grupo de pessoas que anafadamente vai debitando bitaites a partir de alguma das cátedras justamente criadas para o efeito.
Mais uma vez, seguiremos por partes...
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O bom burguês vai sempre aperaltado para a festa...
... ou como é inevitável uma rotineira visita a Delacroix.
(Eugène Delacroix, "La Liberté Guidant le Peuple", 1830)
E para que não se diga que tudo é mera especulação, aí
vai anexo o bem-instalado retrato do retratista...
Delacroix, por Nadar.
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