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"As Cortes e a Constituição não são coisa nova nestes Reinos: são os nossos direitos e os dos nossos Pais." — in Manifesto da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, de 15 de Dezembro de 1820
A despeito das tão tradicionais como insanáveis querelas filosóficas, até ao início do século XX o conceito político de "revolução" tinha conseguido permanecer relativamente transparente na cabeça da maioria dos "actores sociais" enquanto imagem vividamente associada à ideia de sublevação dos estratos inferiores de uma qualquer sociedade com o objectivo de atingir de forma violenta algum tipo de ascenção social e a consequente subjugação dos estratos superiores dessa mesma sociedade.
Admitimos que seria igualmente em função desse tipo de representação que as "revoluções" estavam consensualmente remetidas para um estatuto de excepcionalidade, enquanto recurso de última instância para solucionar os conflitos sociais mais graves, de impossível resolução por outra via.
Porém, desde essa "remota pré-história conceptual" muita água passou debaixo da higienizante "ponte da escolaridade laica e obrigatória", e uma longa sucessão de bem intencionadas lavagens cerebrais conseguiu enquistar em todas as "cabecinhas bem formadas" a magnificência e magnanimidade da ideia de "revolução" como mais adequado sinónimo para o conceito de "progresso"...
Basta-nos recordar aqui as incontáveis narrativas que abrangem desde a Revolução Neolítica à Revolução Digital, da Revolução Copernicana de Copérnico às Revoluções Copernicanas de... Kant ou quaisquer outros, da Revolução Industrial às Revoluções Industriais Segunda, Terceira e Muitas Mais, ou das sofisticadas Revoluções Científicas às mais popularuchas Revoluções Sexuais ou Revoluções Coloridas...
Ora este singelo processo de depuração conceptual que permitiu substituir a estafada ideia de "processo revolucionário" pela mais estimulante de... "progresso revolucionário" conseguiu também obter o notável efeito de lavar as mãos conspurcadas de sangue dos apologistas das "jornadas revolucionárias" que se foram sucedendo na Europa depois da instalação das utopias da modernidade e convencer o incauto de que é essa mesmo a natureza das coisas.
Estava finalmente inventada a fórmula de dourar a pílula para os mais recalcitrantes, instalar na rotina do cidadão a ideia de que o caos é o estado normal do... cosmos... e produzir um inexaurível filão de produtos bombásticos com êxito comercial garantido.
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Para cada revolucionário instalado, há-de chegar sempre um outro mais fresco...
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