Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"As Cortes e a Constituição não são coisa nova nestes Reinos: são os nossos direitos e os dos nossos Pais." — in Manifesto da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, de 15 de Dezembro de 1820
Agora, talvez nos comece a ser mais fácil vislumbrar com clareza os contornos do artifício que desde há séculos nos vai mantendo agrilhoados como presas incautas de um irresistível encantamento obnubilante... "Encantamento", porque o produto da sua arte é precisamente a sedutora retórica de "boas intenções" que temos vindo a expor. "Obnubilante", porque um dos seus principais desígnios é o de apagar da nossa "memória viva" todos os instrumentos que poderiam promover uma apreciação crítica ou até meramente contrastiva dos valores que promove...
Mas retomemos sem sobressaltos a caminhada...
Como vimos, entre os diversos efeitos da pirotecnia narrativa que se tem vindo progressivamente a associar ao conceito de "revolução" conta-se o de favorecer o esquecimento do seu significado originário — ou seja, aquele que umbilicalmente unia revolução e rotação e que, em tempos, permanecia bem claro entre nós...
Ora, é partir da consciência clara deste fenómeno que cai em nosso poder a chave que nos permitirá compreender como aquele "processo-progresso revolucionário" cujas virtudes não cessam de nos dulcificar não passa da engrenagem conceptual que, a partir de determinado momento histórico, a modernidade decidiu acoplar ao seu motor da história...
Convém que fique bem claro que longe de se tratar de um artifício de retórica, a engrenagem que aqui mencionamos é um autêntico dispositivo com diversos efeitos mensuráveis. Entre eles, há um até cujas virtudes os "apóstolos do progresso" não se cansaram de enaltecer publicamente, enquanto o espírito de rapina não estava ainda suficientemente enraizado entre nós — exactamente o de desamortização.
Bastarão aqui alguns conhecimentos de história para recordar como, sem a menor sombra de dúvida, a engrenagem conceptual da "revolução" representou o esquema ideológico a que foi necessário adaptar as mentes para as tornar receptivas ao processo de reintrodução na economia das trocas, ou seja, de reintrodução no grande mercado, de todas aquelas riquezas que até então se encontravam acumuladas em... "mãos que não interessava..."
... E se progredirmos no reavivar das memórias do que foram as sucessivas desamortizações dos bens da Coroa, dos conventos, da igreja, dos foros e terras comuns ou a abolição do morgadio, mas também fenómenos mais subtis, como a introdução do registo predial e do registo civil, ou até do sistema métrico, iremos colocar-nos na via da descoberta de como, a despeito da bondade que estamos condicionados a associar a todos esses revolucionários progressos e muito ao contrário do que gosta de nos convencer o Iluminado, nenhum deles foi especialmente bem recebido entre os Povos — ainda que inebriassem até ao êxtase tanto uma massa exaltada de assalariados miseráveis e pequenos-burgueses rapaces como um selecto naipe de grandes aristocratas bem (in)formados...
... e não é difícil perceber porquê, se repararmos como todo esse processo-progresso esteve estreitamente unido à formação dos Estados-nação, à multiplicação dos dos bancos centrais e ao desenvolvimento da banca comercial, bem como à correspondente generalização dos títulos de crédito e da moeda fiduciária.
Nestes parágrafos, apenas levantámos a ponta do véu de mais um dos extraordinários segredos de polichinelo da modernidade, pelo menos no nosso jardim à beira-mar plantado — afinal, nada está muito escondido... apenas há toda uma História para "relembrar".
E para não cairmos na demagogia do inimigo, continuaremos a progredir metodicamente...
•
Antes da invenção dos ordenadores, todo o processamento tinha de se fazer
recorrendo à machina... agora, já não faz tanta falta.
•
[12, 14]