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"As Cortes e a Constituição não são coisa nova nestes Reinos: são os nossos direitos e os dos nossos Pais." — in Manifesto da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, de 15 de Dezembro de 1820
A Razão como naturalmente igual, a Moral como disposição natural, a Revolução como progresso...
Actualmente, é praticamente impossível para o senso comum não ver em cada uma destas ideias senão o enunciado insofismável de um princípio tão óbvio como benéfico, e ainda que já tenhamos mostrado como nenhuma delas possui a menor razoabilidade, até para o mais banal senso comum não haveria nada mais fácil do que comprovar empiricamente o seu absurdo...
Temos de reconhecer, portanto, que embora sejam suficientes uns instantes para compilar colecções de evidências demonstrando irrefutavelmente o absurdo desta axiologia Iluminista, não é também concebível tarefa mais fútil, mais contraditória — e isto porque, contrariando os modernos, é exactamente o postulado da razoabilidade espontânea do Homem que tomamos como altamente improvável...
Assim, deixando de lado, para já, os segmentos da população em que se vão desenvolvendo alguma apetência e competência para avaliar criticamente "o universo envolvente", avançaremos directamente para aquele grupo que se define exactamente pelo contrário — ou seja, pela falta de predisposição ou competência para avaliar criticamente aquilo que lhe é dado: referimos assim aquela entidade que se convencionou designar como "a massa" — a multidão acéfala, o povo destituído de tudo quanto o poderia caracterizar, o macaco nu ao qual, subitamente, se garantiu ter na mão os desígnios do globo.
Talvez se compreenda, agora, qual a razão porque desde o início nos preocupamos menos em argumentar com as massas do que em perceber por quê, como e para quê precisam os Iluminados de decapitar os Povos...
... e embora pudéssemos ilustrar o fundamento da nossa intenção com incontáveis referências aos arcanos, atendendo a que a linguagem destes já no-la tornaram opaca, teremos de recorrer exactamente à precisão asséptica e cirúrgica de um dos novos pontífices:
Le discours n'est pas simplement ce qui traduit les luttes ou les systèmes de domination, mais ce pour quoi, ce par quoi on lutte, le pouvoir dont on cherche à s'emparer.
O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou sistemas de dominação, mas aquilo por que se luta, aquilo com que se luta, o poder que se procura conquistar.
Michel Foucault, L'Ordre du Discours. [Paris]: Gallimard, 1971, p. 12.
Dispensamo-nos de aprofundar tão colossal evidência — afinal, o carácter cibernético do ser humano não é novidade nenhuma. Mas como, uma vez mais, o nosso palato já só responde ao receituário da moda, aí deixamos a referência a um dos seus principais cozinheiros — Norbert Wiener.
E se não é ainda suficientemente óbvia a conexão entre a conveniência de massificação dos humanos e o carácter condicionado do seu agir, limitamo-nos a invocar a razão de existir do quarto poder:
"Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade."
... e para encerrar, bem podemos deixar a pergunta sobre qual será o caldo de cultura mais propício à difusão das novas tendências nas historinhas de encantar... É que estas ficarão para a próxima...
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A cibernética na era analógica.
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