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18. O Mistério da Educação

por PM, em 08.07.15

Educação!... Eis que apenas vislumbrámos um dos velhos arcanos das artes cibernéticas e já profanámos uma das mais intocáveis vacas dos filantropos!

 

E só de lhe ensaiar um preâmbulo, podemos adivinhar que de entre as criaturas do democrata não há-de haver uma única que não se vá erguer em histérico clamor quando evocarmos a torpeza da sacrossanta instituição do ensino público, universal, gratuito e obrigatório. Porque não — não há-de haver uma só alma pequeno-burguesa devidamente proletarizada que possa deixar de se insurgir em irreprimível indignação assim que lhe macularmos o magnificente portal de acesso à áurea mediocridade do funcionarismo servil.

 

... Mas ousemos, contudo, desferir o inclemente golpe de misericórdia em mais este ídolo do senso comum... Deixemos a descoberto a antibiótica irradiação banalizadora, massificadora e instrumentalizadora que impõe à inteligência humana a nefanda passagem pelas linhas de montagem do Escravo Novo...

 

Deixemos a descoberto, sem pejo, a bitola de mediocridade que brandem contra os nossos filhos as hordas de agentes acéfalos reproduzindo hora após hora, dia após dia, mês após mês desde o início do ano lectivo até à derradeira exaustão dos exaustos as banalidades incensadas em "programas nacionais obrigatórios" expurgados de tudo quanto poderia promover a emancipação das gentes e a liberdade dos Povos...

 

Desde logo, os habituais discursos de boas intenções dos devotos de Rousseau, que há 250 anos inaugurava o "princípio de não-ingerência" naquela "tendência para o Bem naturalmente presente em toda a criança", e dos seus mais recentes e experimentalistas sucedâneos, que enfatizam a "componente inata, lúdica e gratificante do crescimento", têm vindo a transformar todo o percurso escolar numa grotesca farsa em que as escolas públicas, sobretudo naquelas áreas em que, exactamente, predominam as populações carenciadas e as componentes familiar e comunitária da educação são praticamente inexistentes, se transformaram no patético campo de batalha de um combate perdido entre a "benevolente disposição magistral de apelo ao bom senso" e os incontrolados instintos animais de pequenos tiranos em autogestão...

 

Se tivermos presente que à benevolência diletante dos mestres se associa intimamente a pedagogia subliminar e sistemática de todo um sector de comunicação social subjugado pelos interesses da alta finança rendida à cultura da gratificação imediata, não será difícil identificar aqui uma política de desarticulação das sociedades que apresenta como objectivo primeiro a criação de uma massa de indivíduos avessos a qualquer tipo de valores que ultrapassem um perfil de vinculação tribal, ou seja, a criação de uma dócil massa de produtores ávidos de prestar culto aos totens do consumismo estereotipado que os grandes grupos de interesses acham bem promover (sejam eles ideológicos, estéticos ou meramente comportamentais).

 

 

Naqueles casos em que os indivíduos possuem os alicerces de algum tipo de estrutura familiar ou comunitária (ou seja, quando possuem raízes que os não deixam sossobrar aos desígnios alienados do puro consumismo autogratificante) e conseguem sobreviver a esse primeiro estágio de conformação cultural que prepara a massa de produtores-consumidores sem outra aspiração pessoal para além da gratificação infinita das suas idiossincrasias totemicas, terão simplesmente de se haver com uma nova etapa da domesticação...

 

Corresponde esse segundo estágio de relativização axiológica à sujeição dos indivíduos portadores de algum património de valores estruturantes (sejam eles quais forem, note-se) que lhes permita resistir ao ciclo obnubilado da produção-consumo a uma subtil infusão de tolerante condescendência que os subjugue de forma mais indirecta a toda a propaganda massivamente difundida pelos órgãos da elite dominante.

 

 

De resto, existirá neste Admirável Mundo Novo algum currículo de base em que sejam fornecidos aos indivíduos os mais elementares rudimentos para o exercício autónomo de alguma actividade produtiva? Alguns vagos elementos de economia doméstica, sequer? Um ou dois princípios de economia política? De finanças pessoais? Direito ou justiça? Empreendedorismo ou gestão? Ética? Moral? De algum tipo de consciência social, no mínimo?

 

Nada. Como denunciavam os críticos das boas intenções liberais duzentos anos atrás, a escola burguesa não passa de um vil artefacto para pôr "meninas a tocar piano e falar francês"...

 

... e no estádio em que nos encontramos nós, estas palavras já não soam apenas a mera retórica.

 

 

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Vinculação tribal e consumismo estereotipado:
— Sê original ! Faz como os outros !!!

 

 

 [15, 16] 

 

 

 

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publicado às 16:31



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