Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



19. Deseducar para Vencer

por PM, em 11.07.15

Como temos vindo a observar, a educação e a "comunicação social" são dois dos mais importantes dispositivos da cibernética, e o que há de fundamental nesta constatação nem sequer é novidade nenhuma — com efeito, o desenvolvimento da consciência da respectiva importância para o governo dos homens terá sido talvez simultâneo ao próprio desenvolvimento das primeiras civilizações. Se quisermos ir mais longe, estes "dispositivos" poderão até corresponder a algum tipo de competências necessárias para a formação de qualquer sociedade animal.

 

Assim, para além de tudo quanto se pretenda invocar, a característica que mais eficazmente poderá distinguir esses dois "dispositivos" na actualidade é o elevado nível de massificaçãoindustrialização que ambos atingiram — e isto é algo que não pode ser visto como produto de qualquer acaso, uma vez que se articula através de uma teia de complexas relações com aqueles valores que a "nossa" cultura desde há alguns anos decidiu adoptar como progresso... o aprofundamento da globalização e o aprofundamento da concentração do poder.

 

Mas deixemos este tema para melhor ocasião...

 

Regressando à breve apreciação do tipo de educação que as "sociedades ditas desenvolvidas" entenderam proporcionar aos seus futuros cidadãos, podemos começar por notar como aquela escola pública que tem prosperado graças ao logro da universalidade, gratuitidade e obrigatoriedade e foi silenciosamente transformada num instrumento de erradicação de todas as imunidades que poderiam obstar à adopção dos "perfis de produção e consumo estereotipados" antes mencionados se foi igualmente transformando no palco privilegiado de um primeiro confronto sistemático entre o poder político — chamemos assim, para já, a todo o poder extradoméstico — e aquele irresistível impulso de afirmação subjectiva muito natural em todos os "educandos". 

 

Se nos lembrarmos ainda como este confronto se produz no contexto de benevolência, tolerância e condescendência que sistematicamente temos vindo a apontar, que poderemos concluir senão que a "polaridade" da relação entre educadoreducando se encontra aqui paradoxalmente... invertida ???

 

Resta-nos então a ousadia de nos subtrairmos à ditadura dos preconceitos em voga e nos preguntarmos como poderemos definir essa relação entre um poder rendido à impotência, entre um educador rendido à conformação, entre um mestre rendido à servidão... e as "suas" hordas de pequenos tiranos imberbes.

 

Já referimos atrás como esta perversão acaba por funcionar em detrimento dos mais vulneráveis, autorizando-lhes a persistência numa falsa afirmação pré-cozinhada, mas sugerimos também como é das ruínas deste sistema que acabam por sair, quem sabe até robustecidos e insensibilizados pela violência da selecção natural a que foram expostos, todos aqueles que aspiram a um lugar entre os quadros da massa futuramente a moldar.

 

O que corríamos o risco de deixar perdido entre o óbvio é que essa relação invertida é precisamente o nutriente da caixa de cultura onde se desenvolve em todos os indivíduos uma falsa percepção do poder — e que é dessa falsa percepção da bondade do poder que brotam a falsa consciência de segurança, a falsa consciência de justiça e a falsa consciência de liberdade cujo fruto é a alienação generalizada de uma sociedade rendida à mais vil servidão.

 

 

Q U E R E M O S    S O M A ,    M A M Ã   ! ! !

 

 

Grace Jones — Slave To The Rhythm

— Rhythm is both the song's manacle and it's demonic charge. It is the original breath,
it is the whisper of unremitting demand. "What do you still want from me?", says the singer...
Ladies and gentlemen, Miss Grace Jones. Slave To The Rhythm.

— I'm just playing around, babe.

Work all day, as men who know,
Wheels must turn to keep the flow,
Build on up, don't break the chain,
Sparks will fly, when the whistle blows,
Never stop the action,
Keep it up, keep it up.

Never stop the action,
Keep it up.

Work to the rhythm,
Live to the rhythm,
Love to the rhythm,
Slave to the rhythm.

 

— Hmmm... Black.

 

Axe to wood, in ancient times,
Man machine, power line,
Fire burn, hearts beat strong,
Sing out loud, the chain gang song,
Never stop the action,
Oh... keep it up, keep it up.

Never stop the action,
Come on, keep it up!

Breathe to the rhythm,
Dance to the rhythm,
Work to the rhythm,
Live to the rhythm,
Love to the rhythm,
You slave to the rhythm.

 

— Oh, babe, hummm...

 

Live to the rhythm,
Work to the rhythm,
Love to the rhythm,
Slave to the rhythm.

And now, ladies and gentlemen —
Miss Grace...

slave...

... to the rhythm...

 

 

[15, 17]

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 12:10

18. O Mistério da Educação

por PM, em 08.07.15

Educação!... Eis que apenas vislumbrámos um dos velhos arcanos das artes cibernéticas e já profanámos uma das mais intocáveis vacas dos filantropos!

 

E só de lhe ensaiar um preâmbulo, podemos adivinhar que de entre as criaturas do democrata não há-de haver uma única que não se vá erguer em histérico clamor quando evocarmos a torpeza da sacrossanta instituição do ensino público, universal, gratuito e obrigatório. Porque não — não há-de haver uma só alma pequeno-burguesa devidamente proletarizada que possa deixar de se insurgir em irreprimível indignação assim que lhe macularmos o magnificente portal de acesso à áurea mediocridade do funcionarismo servil.

 

... Mas ousemos, contudo, desferir o inclemente golpe de misericórdia em mais este ídolo do senso comum... Deixemos a descoberto a antibiótica irradiação banalizadora, massificadora e instrumentalizadora que impõe à inteligência humana a nefanda passagem pelas linhas de montagem do Escravo Novo...

 

Deixemos a descoberto, sem pejo, a bitola de mediocridade que brandem contra os nossos filhos as hordas de agentes acéfalos reproduzindo hora após hora, dia após dia, mês após mês desde o início do ano lectivo até à derradeira exaustão dos exaustos as banalidades incensadas em "programas nacionais obrigatórios" expurgados de tudo quanto poderia promover a emancipação das gentes e a liberdade dos Povos...

 

Desde logo, os habituais discursos de boas intenções dos devotos de Rousseau, que há 250 anos inaugurava o "princípio de não-ingerência" naquela "tendência para o Bem naturalmente presente em toda a criança", e dos seus mais recentes e experimentalistas sucedâneos, que enfatizam a "componente inata, lúdica e gratificante do crescimento", têm vindo a transformar todo o percurso escolar numa grotesca farsa em que as escolas públicas, sobretudo naquelas áreas em que, exactamente, predominam as populações carenciadas e as componentes familiar e comunitária da educação são praticamente inexistentes, se transformaram no patético campo de batalha de um combate perdido entre a "benevolente disposição magistral de apelo ao bom senso" e os incontrolados instintos animais de pequenos tiranos em autogestão...

 

Se tivermos presente que à benevolência diletante dos mestres se associa intimamente a pedagogia subliminar e sistemática de todo um sector de comunicação social subjugado pelos interesses da alta finança rendida à cultura da gratificação imediata, não será difícil identificar aqui uma política de desarticulação das sociedades que apresenta como objectivo primeiro a criação de uma massa de indivíduos avessos a qualquer tipo de valores que ultrapassem um perfil de vinculação tribal, ou seja, a criação de uma dócil massa de produtores ávidos de prestar culto aos totens do consumismo estereotipado que os grandes grupos de interesses acham bem promover (sejam eles ideológicos, estéticos ou meramente comportamentais).

 

 

Naqueles casos em que os indivíduos possuem os alicerces de algum tipo de estrutura familiar ou comunitária (ou seja, quando possuem raízes que os não deixam sossobrar aos desígnios alienados do puro consumismo autogratificante) e conseguem sobreviver a esse primeiro estágio de conformação cultural que prepara a massa de produtores-consumidores sem outra aspiração pessoal para além da gratificação infinita das suas idiossincrasias totemicas, terão simplesmente de se haver com uma nova etapa da domesticação...

 

Corresponde esse segundo estágio de relativização axiológica à sujeição dos indivíduos portadores de algum património de valores estruturantes (sejam eles quais forem, note-se) que lhes permita resistir ao ciclo obnubilado da produção-consumo a uma subtil infusão de tolerante condescendência que os subjugue de forma mais indirecta a toda a propaganda massivamente difundida pelos órgãos da elite dominante.

 

 

De resto, existirá neste Admirável Mundo Novo algum currículo de base em que sejam fornecidos aos indivíduos os mais elementares rudimentos para o exercício autónomo de alguma actividade produtiva? Alguns vagos elementos de economia doméstica, sequer? Um ou dois princípios de economia política? De finanças pessoais? Direito ou justiça? Empreendedorismo ou gestão? Ética? Moral? De algum tipo de consciência social, no mínimo?

 

Nada. Como denunciavam os críticos das boas intenções liberais duzentos anos atrás, a escola burguesa não passa de um vil artefacto para pôr "meninas a tocar piano e falar francês"...

 

... e no estádio em que nos encontramos nós, estas palavras já não soam apenas a mera retórica.

 

 

graf32.gif

Vinculação tribal e consumismo estereotipado:
— Sê original ! Faz como os outros !!!

 

 

 [15, 16] 

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:31


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D


Pesquisar

  Pesquisar no Blog