Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



 Toxicologia aplicada

 

Vimos no artigo anterior como o Iluminado conseguiu logo nas primeiras linhas do seu texto apresentar um incontornável dilema ao leitor, tocando no ponto nevrálgico de contestatários, insubmissos e revoltados e excitando neles uma... purulência irritativa ainda em estado latente que, seguidamente, apenas falta intensificar e dirigir.

 

Uma vez que começamos a ter o nosso opúsculo classificado de uma forma mais consentânea com a sua dinâmica subjacente, estaremos também preparados para nos lançar muito além dos encómios mais ou menos bajuladores que se costumam acoplar à respectiva menção.

 

 

Agora que deixámos para trás a exposição dos mecanismos cibernéticos motores e legitimadores que que o autor põe em acção, é possível que a sofisticação do respectivo engenho se tenha sobreposto a outro aspecto mais importante da sua traquitana idealista — é que graças ao carácter vago de todas as sugestões, o discurso revolucionário é elevado até um patamar de abstracção verdadeiramente notável...

 

Enquanto agente de recrutamento de uma Nova Ordem cujos contornos praticamente ainda nem sequer esboçou, consegue, logo desde a primeira linha, predispor o público para um abraço enternecido da sua causa — não fosse ela senão a das criancinhas oprimidas !

 

É esta primazia do impensado (emoções, instintos, reflexos condicionados, lugares-comuns...) que aqui mais sobressai, sobretudo porque, e não nos cansamos de o repetir, se desenha com a pena do celebrado colosso da Razão Pura...

 

Resta agora sublinhar que esta maestria psicológica consiste numa cuidada selecção de metáforas orientadoras, cujo efeito junto do leigo permite reduzir um fenómeno complexo a uma imagem facilmente inteligível...  Ou seja, deparamo-nos mais uma vez com aqueloutra estratégia da Modernidade que não nos cansamos de denunciar a cada minuto que passa — a do reducionismo abstractizante...

 

... e gostamos ainda mais de o fazer quando nos dirigimos aos nossos compatriotas que, graças ao inexaurível débito dos nossos políticos e dos nossos "órgãos de comunicação", já se tornaram praticamente alheios a tudo quanto não possa ser traduzido numa etiqueta...

 

 

Mas estamos a adiantar-nos... neste momento, interessaria sobretudo distinguir o que é que essa estratégia tem de tão sedutor para a Modernidade — ou, de forma mais directa, porque é que a generalidade e a abstracção são tão supremas virtudes para o Moderno ?

Na resposta a esta modesta pergunta, encontra-se, acreditamos, pelo menos uma das chaves do Modernismo — quem sabe senão mesmo a chave de todos os racionalismos.

 

Atendendo a que estamos a dar os primeiros passos nisto, digamos para já que é o facto de abstractizar para além de todo o reconhecimento imediato o seu antagonista que permite ao autor generalizar o perfil do seu público até à maior abrangência possível...

 

 

Já vimos atrás quais o procedimentos a que recorre. Falta apenas sublinhar como a actualidade do texto se mantém ainda hoje intocada !!! Mais de 200 anos sobre a sua redacção, são inúmeros os que ainda hoje gostam de queimar incenso ao som do "Sapere aude !"

 

Pudera ! — O "espectro invisível" é precisamente o mesmo...

 

(Registe-se como marginalia que praticamente todas as citações deste texto de Kant são provenientes das escassas linhas iniciais até agora analisadas. Dentro em pouco, iremos preceber porque é tão "natural" que o resto se prefira manter "adormecido"...)

 

Ora, esta capacidade de aprazivelmente agradar a todos corresponde precisamente a mais uma das sumas virtudes da Modernidade: a de "fazer mais com menos"... ou seja, economia de meios, abrangência no espaço e permanência no tempo... aliás,

 

produção em massa para as massas...

 

... é tão bom, não é ???

 

 

E quando na noite das
trevas brilha o farol
do Iluminado
...

Iluminação entre as trevas.jpg

Ups... A culpa é tua, grandessíssimo ignorante !

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:19


Arquivo

  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2015
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D


Pesquisar

  Pesquisar no Blog