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21. Espontaneidade da História

por PM, em 12.07.16

Aproveitando a embriaguês de adrenalina que nos proporcionou a glória primal de sentir sob os pés aquele latejar de vida estrangeira, não vamos deixar que se desvaneça tão subitamente o ímpeto que nos move para derrubar — ainda que em efígie — todos os caquécticos ídolos do progressismo vigente...

 

... e uma vez que a ufania dos Iluminados que os enaltecem se escora apenas sobre as falácias e falsas evidências do senso comum — ainda que abrilhantadas com as lantejoulas de academismos pedantes e entronizações mediáticas —, dedicaremos seguidamente uma parte do nosso tempo livre à apreciação de alguns dos lugares-comuns que mais facilmente se têm difundido nesta democrática era da ciência pop...

 

 

A Espontaneidade da História

 

A crença ingénua naquilo que podemos designar como "espontaneidade da história" foi um dos mais insidiosos narcóticos que por cá nos veio reciclar o demo-liberalismo pós-Abrilista.

 

De um ponto de vista da cultura popular disseminada pelos mass media liberalizados, ela consiste apenas na vaga noção de como o afastamento do "bicho-papão do fascismo" nos veio finalmente reenquadrar naquele pano de fundo civilizacional propício à realização de todas as aspirações do ser humano no mundo.

 

Com efeito, dizem-nos, instalado o princípio da "soberania popular" num sistema de "pluralismo democrático", será virtualmente impossível que a vontade da maioria não se repercuta em decisões sumamente esplêndidas não só para todos aqueles que as subscreveram como para as demais marginalidades sobrantes — e, ainda para além disso, como se pode dar por adquirida a favorável transposição dessas esplêndidas decisões para a complexa esfera da sociedade em geral.

 

A materialização deste inebriante estado de espírito atingiu o apogeu entre nós no início dos já longínquos anos de 1990, logo depois da adesão à então CEE, com o postulado Cavaquista dos "bons alunos" —

 

emancipado este povo da menoridade que lhe teria imposto a abominável ditadura, mais não lhe seria necessário do que assimilar os soberbos princípios das luminárias do Capitalismo Avançado para que, como se por magia, todo o tapete do Progresso e da Abastança se lhe desenrolasse naturalmente — lá está, espontaneamente — sob os pés.

 

— ora, se não nos custa aceitar que este tipo de ingenuidades acabasse por seduzir os espíritos mais pobres (até porque se confirma que é exactamente a eles e aos seus apaniguados que estão franqueados os Reinos das Alturas), já nos é mais antipático ter de admitir que os glitterati locais lhe dessem igual guarida.

 

Mas é aqui que devemos dar o braço a torcer, pois na verdade esta ideia segundo a qual há alguma "força benevolente" conduzindo os "negócios do mundo" para além de todos os incontáveis "desígnios dos homens" é, sem dúvida, um dos mais poderosos sustentáculos da Modernidade...

 

(Como triste sinal dos tempos que correm, temos de abrir aqui um parêntesis para lembrar aos mais deficientemente informados, e serão muitos, que dentro de um espírito genuinamente Cristão não há nada de minimamente enaltecedor a esperar deste mundo — nem sequer neste mundo, para o efeito.)

 

 

Sem pretender teorizar longamente sobre o assunto, e de forma a permanecer até mais próximo das formas da razão secular que presentemente nos moldam, será suficiente começar pela singular engenharia Hegeliana, que na sua ala direita ostenta a bandeira do Volksgeist com as diversas cores das virtudes nacionalistas, e na oposta ala esquerda cede o lugar à mais popularucha luta de classes sob um económico e monocromático uniforme internacionalista.

 

Em ambos os casos, promete-se como solução para todos os dramas individuais o inelutável sucesso mundano dos partidos. (E para o público em geral não interessa para já levantar o véu sobre o resto da história — ou "História", com "H" maiúsculo, para ser mais preciso...)

 

Para aqueles a quem este espírito de manada não ultrapassa o limiar do insosso, a Modernidade oferece alternativas q.b.

 

Os direitistas individualistas, megalómanos por natureza, poderão apreciar a bandeja de prata dos voluntarismos Nietzschianos... Ao som da Cavalgada das Valquírias são de êxito garantido para os lados de Hollywood. Quanto aos impenitentes subjectivistas de esquerda, não ficarão mal servidos com umas gotas de anarquismo russo. Face às mais desbragadas titilações do libertarismo contemporâneo, oferece a louvável compostura de um puritanismo de pendor Soviético.

 

O cúmulo do requinte está, porém, reservado aos materialistas radicais — para que se não possa insinuar que estes se encontram além do bem e do mal (não seria um bom augúrio para quem precisa de assinar contratos...), a infatigável inventividade da Modernidade oferece-lhes o liberal amparo da mão invisível de Adam Smith...

 

 

Não será necessário avançar muito mais para perceber como este pano de fundo de optimismo escatológico vertido para as coisas do mundo, como esta crença num benevolente e incontornável progresso da humanidade a despeito das tribulações dos seres humanos concretos no mundo, não é simplesmente "apenas mais uma" das características da Modernidade — mas sim um dos seus axiomas centrais, a partir do qual todo o resto decorre.

 

Mas suspendamos agora o juízo... afinal, haverá quem não perceba porque nos preocupa um problema tão bizantino...

 

... Bem...

 

... porque é exactamente essa presunção de um "feliz desenlace mundano para os problemas do mundo" que compromete o destino do homem a qualquer "ideologia salvífica" — ou seja, que compromete os incautos com um partido qualquer... Ou ainda, para ser mais claro — que dissolve as comunidades de interesses naqueles indivíduos interesseiros, naqueles lobos do homem mensageiros da sordícia, da servidão e da morte...

 

 

E só porque apareceu por acaso...

 

banksters1.jpg

 

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publicado às 04:53



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