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"As Cortes e a Constituição não são coisa nova nestes Reinos: são os nossos direitos e os dos nossos Pais." — in Manifesto da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, de 15 de Dezembro de 1820
(pausa higiénica)
Até este momento, colocámos sob a lente do nosso microscópio as primeiras 112 palavras (tradução portuguesa, claro) da alegadamente "luminosa" (e "clássica") exposição kantiana sobre o Iluminismo.
O único comentário que se nos oferece é o de que ela é realmente "luminosa" pela forma como nos encandeia até à cegueira (e "clássica" pelo exemplo que nos dá dos malabarismos conceptuais tão indissociáveis do pensamento Moderno).
Se até aqui distinguimos um sinal de luminosa erudição, foi na arte demagógica como Kant conseguiu revestir de "colorida simplicidade infantil" uma data de problemas que afligem, pelo menos, alguns seres humanos desde a mais remota noite dos tempos.
Ao "trocar em miúdos" — e "para os miúdos" — o "problema original" do Iluminismo (que é, basicamente, o mesmo da Modernidade), engendrou-nos uma geringonça conceptual a desengonçar por todos os lados... (Como esta ideia da geringonça voltou a estar na moda entre as nossas bandas, aproveitamo-la também para dar aquele toquezinho moderno às velharias que aqui vamos trazendo a palco...)
Aquele tribunal em que pretende vestir a toga de acusador para nos (a nós, homens) desmascarar a indecisão e a cobardia não é, podemos afirmá-lo decididamente agora, o tribunal da razão — embora o ingénuo, deslumbrado com a "maioridade" dos "amanhãs que cantam", silenciosamente seja induzido a aceitá-lo como tal.
Isto porque aquele imperturbável rigor geométrico indispensável para a demonstração caiu da carroça logo ao primeiro solavanco... Quando o Idealista Transcendental se põe a aguilhoar o homem com a excelência de virtudes como a ousadia e a coragem, as paixões põem ao homem logo o sangue a ferver...
... E cego pelo fervor, já pouco lhe interessam as petições de princípio que encontra a seguir !!!
Olé !!!
A menos que...
... a menos que...
... a menos que...
(gabinete das curiosidades — exibição número um)
Então não é que este mesmo vosso criado que aqui presunçosamente vai registando estas linhas se estava a deixar levar na cantiga ???
Ele próprio encandeado pela aparente fragilidade da retórica do Iluminado, estava a esquecer-se que já lhe tinha apontado um duplo registo !!!
a) autocrítica e revisão da matéria dada (e alguma a dar ainda)
Quando, de forma metódica e disciplinada, enumerámos as fontes de norma moral que poderiam fundamentar a acusação moral do autor e nelas incluímos as que a razão costuma indicar, além de outras que a razão gosta de afastar, acabámos por deixar de lado aquelas que a razão realmente ignora: as meta-racionais.
Como ainda não chegou o momento de expor o intricado, apresentaremos apenas uma definição superficial desta coisa como:
"As fontes de norma moral de âmbito meta-racional consistem (pelo menos) nas que derivam dos códigos de honra das sociedades privadas."
Ora, na nossa ligeireza quase infantil ("Humana, demasiado humana", diria o outro...), estávamos a esquecer que a ousadia e a coragem se encontram ENTRE AS MAIS EXCELSAS VIRTUDES CASTRENSES...
... e de associar a este "pequeno pormenor" o facto de que a invenção do moderno exército permanente foi precisamente uma das maiores façanhas dos prussianos Fredericos, compatriotas do camarada que nos vai inspirando estas linhas !
Então, para o iniciado, um dos cenários que se lhe foi configurando desde o início foi O DA CORTE MARCIAL em que está em juízo o puto acabrunhado, aquele maçarico verde e cobarde que voltou as costas à carga heróica sobre o pavoroso inimigo...
Puxa !!! Quanta ingenuidade nossa, Senhor !!!
... E o embasbacamento é tal que vamos ter de prolongar mais um pouco esta...
(pausa higiénica — à suivre ela mesma também...)
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Representação idealizada dos Granadeiros
Prussianos ao tempo de Frederico II (século XVIII)
durante manobras de campo
Estes já estão uns homenzinhos, caramba !