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33. O que é o Iluminismo ? (8)

por PM, em 21.09.16

Em que, ignorando os prognósticos de
dilúvio, começamos a aproximar-nos
da velocidade
de cruzeiro

 

Tem sido lento o arranque... mas há que reconhecer que é trabalhosa a desmontagem das sugestões vagas tão ao gosto destes nossos luminosos pirilampos que, com os seus rodopios, teimam em nos desnortear — perdão: desorientar ! — na noite do espírito em que nos encontramos sepultados...

 

Vamos lá ver se agora se torna mais fácil:

 

7. "Porque a imensa maioria dos homens (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e também muito perigosa é que os tutores de bom grado tomaram a seu cargo a superintendência deles. Depois de terem, primeiro, embrutecido os seus animais domésticos e evitado cuidadosamente que estas criaturas pacíficas ousassem dar um passo para fora da carroça em que as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça, se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo não é assim tão grande, pois acabariam por aprender muito bem a andar. Só que um tal exemplo intimida e, em geral, gera pavor perante todas as tentativas ulteriores."

 

— Ena ! E ultrapassámos a primeira página !

 

— ... para continuarmos a ver o Idealista Transcendental urdindo a sua teia:

 

 

1) Depois de nos ter apontado a via para a redenção da culpa negligente que os homens carregam por cobardia (ou seja, a via da ideologia Iluminista, com o seu culto da Razão, aqui encarnada no "agrilhoado entendimento");


2) depois de nos sugerir como horizonte aquele estádio ideal de adultos emancipados (aqueles "sábios ousados e corajosos" da invectiva latina — "Sapere aude !" — em que se desenha já a escatologia do voluntarismo viril que tanto êxito fará depois de Nietzsche) e

 

3) depois de nos agitar à frente do nariz o fantasma de um ganancioso opressor (na altura, sobressaía entre os Germânicos o das religiões cristãs, em especial o Catolicismo Romano, tal como já no tempo de Lutero; porém, para o Iluminado, qualquer poder, qualquer hierarquia, qualquer ordem, qualquer tutor serve como antagonista: o objectivo prioritário é o da permanente dissolução de todos os laços de coesão entre os homens — claro, para além dos que ele mesmo autoriza),

 

4) encontra-se montado o seu dispositivo elementar de cibernética analógica:

 

ideologia + escatologia + antagonismo = machina revolucionária

 

Usamos o termo "machina" para sublinhar que 1) se trata de um
dispositivo relativamente "automático", que 2) não há diferenças significativas
nos princípios de acção/reacção de dispositivos "materiais" e dispositivos "conceptuais" e
3) preservamos a grafia arcaica exactamente para realçar a precedência destes
dispositivos "conceptuais" relativamente aos "materiais".

 

5) Seguidamente, trata-se apenas de a abastecer de "combustível" a geringonça...  Se observarmos com atenção o acima reproduzido 7.º extracto do texto, veremos como não passa de um modesto desenvolvimento do 5.º extracto — para lá da catadupa de lugares-comuns, aquilo que sobressai do nosso espalha-brasas é aquele aguilhoar das susceptibilidades dos leitores mais irritáveis, como acabámos de mostrar no artigo anterior.

 

6) Podemos então concluir que, para lá de todo o artefacto supostamente discursivo que (em vão!) nos entretivemos a desmontar, subjazia outro dos mais elementares dispositivos daquela cibernética analógica que se nos vai tornando cada vez mais familiar:

 

frustração + estimulação = revolta

 

Quando à machina revolucionária acrescentamos o combustível da
revolta, obtemos a revolução. A eficácia deste mecanismo pode medir-se em
rpm; vemos, portanto, como nestes tempos primitivos da cibernética analógica
os resultados obtidos eram francamente insatisfatórios, com relações
muito inferiores a 1 / 525600. Hoje está tudo muito mais
avançado, como teremos oportunidade de ver.

 

7) Ora, é então esta poderosa machina de psicologia política que o nosso autor trata aqui de pôr em funcionamento. Tendo começado por, de forma genérica, acossar os contestatários frustrados pelo dogma, os empreendedores frustrados pelos tutores e os voluntaristas frustrados pela norma alheia, passa agora a introduzir à estimulação curiosas nuances... Acrescenta-lhe aquele toque de machismo viril tão próprio de todos os... "ousados"... e aquela aversão ao rebanho tão característica dos... "originais"...

 

 

Com toda esta estimulação das poderosas forças instintivas que latejam bem no fundo de cada ser humano — em especial daquele mais... inconformado... — vemos agora com toda a clareza e distinção como, no percurso que aqui temos vindo a seguir, o nosso Iluminado (de outra forma sempre tão frígido e intelectual) parece ter vindo a encarnar, afinal, o curioso papel de...

 

agent provocateur...

 

•••

 

Não sei porquê, parece-me que
ainda
não tinha visto isto
em lado nenhum...

 

Dejà Vu.jpg

Agent Provocateur...
ou a estranha sensação de
que há sempre algo de novo
debaixo do véu...

 

 

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